Quando não cabe mais do lado de dentro começa a exalar, sai pelos poros, transborda, inflama.
É vontade de partir, de abandonar, de não estar no mesmo lugar.
É vontade de romper com a estagnação, de avançar fronteiras sem mostrar documentos.
É voar sem passaporte, é estar sem ser consorte.
É mandar pra lá o azar, é abraçar pra dizer que vai ficar, vai sentar, vai estar, quando só se sabe amar.
É um jeito estranho que o corpo usa para se rebelar.
É ausência, incompletude, sem consubstancialidade com as calçadas que pisa.
É ver asas a crescer nas costas, no pensamento, nos pés.
É fazer e desfazer as malas mentalmente mil vezes por dia.
É saber a roupa que vai usar daqui 3 meses.
É saber que o batom vai ser claro, quase brilho, sem rímel, sem pó. Só a cara lavada de pau que Deus deu.
É saber que a voz vai sair entrecortada, misturada aos sussurros contidos. Embargada, molhada, marejada, emocionada.
É saber em maio que o dia vai ser azul em agosto, porque de azul é feito o amor. De azul e de cheiro de amarelo.
O sabor é pimenta, é kani, é chocolate ao leite, é meio amargo.
É frio na espinha, na barriga, na cabeça, é calor no coração.
É saber que se fechar os olhos os pés sabem o caminho do caminho ainda não percorrido, é saber os ruídos da cidade não visitada, da casa ainda não alugada, dos móveis não comprados.
É ouvir o chiado do café pingando e o aroma se espalhando pelo ar.
Amor é como café bom. Quente, forte, doce na medida.
Toma conta do ambiente.
Aquece, acorda, levanta.
Café é como amor...
Vontade de ir, inexplicável vontade de não ficar.
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