sexta-feira, 24 de junho de 2016

Drive-thru


No fundo eu não queria que vocês se conhecessem, havia medo (sempre há), dentro de mim sobre o seu ponto e vista critico sobre ela. Sobre as várias avaliações que faria sem ao menos pergunta-la o nome dela,  e não suportaria a ideia de vê-la frustrada por um adulto não ouvir suas piadas..

No entanto, ambos me fizeram deixar que isso ocorresse. Tudo correu como não-planejado, surgiu a oportunidade e deixamos levemente o destino se encarregar de apresentar vocês dois.

O meu maior tesouro, a minha maior motivação, é sempre zelar pela felicidade dela acima de tudo, foi educar, amar incondicionalmente, passar noites em claro observando o que seria de você quando um dia eu faltar e tiver a certeza que eu fui a melhor sua mãe do mundo, a melhor em te fazer feliz, em te educar dentro dos princípios, em te fazer um “ser-humaninha” melhor para o mundo.
Eu observei todo desenrolar das piadas.. Da quase-nenhuma afinidade com criança ser colocada em prática, de como vocês são especiais pra mim, se nada desse certo eu já estava feliz que ele tenha observado e participado desse momento tão pequeno e familiar. É o segundo lado de alguém, não é a mulher que estava lá e sim à mãe daquela situação, contornando os pulos e os palavrões.

Ela tem o meu jeitinho de olhar, as minhas respostas afiadas, ela tem o sorriso engraçado e a felicidade em pequenas coisas, assim como eu desejei que fosse desde o inicio da minha vida materna, ela me compreende com o olhar, é a minha melhor parte e era a última coisa que ele precisava conhecer para ter me conhecido por completo.

Foi leve, foi engraçado vê-lo em uma situação a qual você não controlou por completo, mais se saiu muito bem. Deu seu melhor em interagir, deu sua atenção, me deixou feliz e com a carteira vazia rs..
Voltamos para casa sem perguntas, os bonecos estavam felizes e ela pulava de um lado para o outro no banco de trás dando um nome para cada um e lhes contando como seria divertido chegar em casa e conhecer os outros amigos...
Lembrei-me que tinha apagado seu telefone, e não daria para avisa-lo que “chegamos” ... Mas mais que isso, o telefone era apenas um meio de comunicação pequeno se comparado quando o olhar fala mais do que se precisava sentir.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Só para me lembrar que os dias de crise existem, demoram a passar e são doloridos.

1 - dói as mãos no frio.
2 - Perco o apetite.
3 - tenho desanimo.
4 - me sinto um peixe fora d'água em qualquer ambiente que não seja minha cama.
5 - fico com as mãos machadas.
6 - tenho calafrios.
7 - descobri hoje que eu "bufo" de raiva.
8 - não gosto de falar.
9 - tenho dores de cabeça por horas.
10 - vomito a comida com facilidade.
11 - esqueço dos remédios pós almoço.
12 - normalmente ganho olheiras de panda.
13 - fico inquieta perto das pessoas.
14 - prefiro ambientes menos claros.

...

sábado, 4 de junho de 2016

O que a dança ensina

Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez. Pois dia desses aceitei um desafio: fiz uma aula de dança de salão. Roxa de vergonha por ter que enfrentar um professor, um espelho enorme, outros alunos e meu total despreparo. Mas a graça da coisa é esta, reconhecer-se virgem. Com soberba não se aprende nada. Entrei na academia rígida feito um membro da guarda real e saí de lá praticamente uma mulata globeleza.
Exageros à parte, a dança sempre me despertou fascínio, tanto que me fez assistir ao filme que está em cartaz com o Antonio Banderas, “Vem dançar”, em que ele interpreta um professor de dança de salão que tenta resgatar a auto-estima de uma turma de alunos rebeldes. Qualquer semelhança com uma dúzia de outros filmes do gênero, inspirados no clássico “Ao mestre com carinho”, não é coincidência, é beber da fonte assumidamente.
Excetuando-se os vários momentos clichês da trama, o filme tem o mérito de esclarecer qual é a função didática, digamos assim, da dança. Na verdade, o simples prazer de dançar bastaria para justificar a prática, mas vivemos num mundo onde todos se perguntam o tempo todo “para que serve?”. Para que serve um beijo, para que serve ler, para que serve um pôr-do-sol? É a síndrome da utilidade. Pois bem, dançar tem sim uma serventia. A dança nos ensina a ter confiança, se é que alguém ainda lembra o que é isso.
Hoje ninguém confia, é verbo em desuso. Você não confia em desconhecidos e também em muitos dos seus conhecidos. Não confia que irão lhe ajudar, não confia que irão chegar na hora marcada, não confia seus segredos, não confia seu dinheiro. Dormimos com um olho fechado e o outro aberto, sempre alertas, feito escoteiros. O lobo pode estar a seu lado, vestindo a tal pele de cordeiro.
Então, de repente, o que alguém pede de você? Que diga sim. Que escute atentamente a música. Que apoie seus braços em outro corpo. Que se deixe conduzir. Que não tenha vergonha. Que libere seus movimentos. Que se entregue.
Qualquer um pode dançar sozinho. Aliás, deve. Meia hora por dia, quando ninguém estiver olhando, ocupe a sala, aumente o som e esqueça os vizinhos. Mas dançar com outra pessoa, formar um par, é um ritual que exige uma espécie diferente de sintonia. Olhos nos olhos, acerto de ritmo. Hora de confiar no que o parceiro está propondo, confiar que será possível acompanhá-lo, confiar que não se está sendo ridículo nem submisso, está-se apenas criando uma forma diferente e mágica de convivência. Ouvi uma coisa linda ao sair do cinema: se os casais, hoje, dedicassem um tempinho para dançar juntos, mesmo em casa - ou principalmente em casa - muitas discussões seriam poupadas. É uma espécie de conexão silenciosa, de pacto, um outro jeito de fazer amor.
Dançar é tão bom que nem precisava servir pra nada. Mas serve.
(Martha Medeiros)